top of page
  • Foto do escritorGabriela Gibim

O que fazer quando não sei o que estou sentindo

Atualizado: 5 de abr. de 2021


arte feita com colagem de revista , pedras e flores. Sugere mulher sentindo-se relaxada

Há momentos (ou situações) em nossa vida em que as emoções se intensificam e nos deixam confusos, sem entender o que estamos sentindo ou como devemos agir. Provavelmente, buscar compreender o nosso estado a partir de características “básicas” dos movimentos de expansão e contração do corpo, possa ser um bom ponto de partida.


É relativamente comum que situações assim aconteçam quando somos “tomados” negativamente por alguma emoção ou sentimento e é possível também que tal situação perdure de modo a dificultar que possamos dar alguns passos em direção ao que nos tranquiliza e nos devolva alguma potência. Aqui nesse texto você vai encontrar algumas reflexões e uma orientação de cuidado em relação a situações assim.


ENTENDENDO UM POUCO OS MOVIMENTOS DO CORPO


O que ocorre quando angustiamos ou estamos com medo é que o nosso corpo se contrai. Há um aumento de tensão que altera nossos processos corporais básicos: podemos sentir nossa pele mais fria, nossos batimentos cardíacos mais acelerados e nossa respiração mais curta, menos profunda, sem que nada disso passe pela nossa consciência. Nossa musculatura também se altera e podemos senti-la mais enrijecida. Assim como as emoções, este processo é uma reação do nosso corpo há algo externo que nos acontece.


É importante considerar que:


  • É possível que cada um de nós, olhando para si com um pouco mais de atenção consiga identificar no próprio corpo algumas tensões, caso elas estejam mais intensas. Contudo, geralmente, essas são tensões que há anos foram sendo incorporadas de um modo tal que fazem parte do modo de ser de cada pessoa (que refletem em nossa postura corporal, em nossa disposição física, etc.) e por isso, podem ser difíceis de serem percebidas.


  • Por mais que atualmente algumas dessas tensões possam estar em excesso, sendo mais prejudiciais do que “funcionais”, é importante considerar que tal como agora, no passado elas foram uteis para suportar e se defender de situações difíceis.


  • Cada corpo é único, de modo que identificar seus próprios locais de maior acúmulo dessas tensões é um processo muito singular. Por isso, se as tensões estão aí, não tenha pressa, dê tempo para percebê-las.


Considerando esses pontos, a compreensão mais fundamental é que a contração é um dos mecanismos fundamentais de funcionamento de nossos corpos (o outro é a expansão). Ambas constituem nosso processo vital. Segundo, Wilhelm Reich (1897 – 1957), psiquiatra, terapeuta e cientista que estudou profundamente a relação entre corpo e mente, "o processo vital consiste em uma contínua alternância entre expansão e contração"¹.


UMA POSSÍVEL CAUSA PARA UMA CONTRAÇÃO/TENSÃO EXCESSIVA


Saber desse “ritmo” pode ser uma importante ferramenta para compreendermos que a “chave” da questão está na alternância entre contração e expansão. Contudo, podem haver contextos (e como escrevi aqui nesse textinho, até formas de viver no mundo) que exercem uma forte opressão sobre nossos corpos, de modo que desde a nossa mais remota infância, nossos corpos vão se contraindo em decorrência de uma série de regras coercitivas, com poucas possibilidades de expansão. O resultado disso é que se instaura em nós um grande medo de expandir.


Ainda sobre essa questão do mundo que nos cerceia a possibilidade de nos expandir (e nesse caso, mais especialmente no campo das emoções), Antônio Damasio, neurocientista português, menciona algo muito revelador. Segundo o autor, não somos capazes de impedir ou controlar uma emoção. O que ocorre é que alguns de nós, por influência cultural, acabamos aprendendo a disfarçar algumas de suas manifestações externas, sem, contudo, “jamais podermos bloquear as mudanças automáticas que ocorrem nas vísceras e no meio interno”².


Assim como não temos controle sobre uma emoção, também não temos controle sobre as mudanças que ocorrem no nosso corpo quando impedimos a sua expressão, o que pode, sim, intensificar nossas tensões, nosso sofrimento e os estados de confusão, de insegurança e de angústia.


UMA FORMA DE CUIDAR


Cuidar de nós mesmos quando nos sentimos assim, contraídos, e sobretudo, com medo da expansão, requer, reforço, tempo. E requer que a gente oferte para o nosso corpo nesse tempo, meios que permitam o relaxamento.


Em grande parte das vezes, não sabemos exatamente onde estamos mais enrijecidos ou tencionados. O que, em geral, percebemos é um mal-estar generalizado, sem identificação clara de sua possível causa. Nesse caso, a primeira coisa que podemos buscar é um momento mais isolado, em que possamos nos resguardar e relaxar.


Pode ser bem difícil encontrar (ou construir) um momento assim em meio a rotina. Às vezes acreditamos que permanecer em frente à tela vendo amenidades poderia ser o bastante, mas para que esse momento de pausa se efetive como um exercício de autocuidado e autoconhecimento, é crucial que nos dediquemos de fato a ele, com luz baixa, com pouco ou nenhum estímulo visual, deitados ou na posição mais confortável, buscando o relaxamento para os músculos, para as vísceras e para os nossos pensamentos.


Para muitas situações, sobretudo para aquelas em que as dificuldades são tantas que acabamos por nos colocar em segundo plano, ou para as dores antigas, que já estamos há tempos negando e evitando de lidar – por diferentes razões – dar-se esses momentos de busca pelo relaxamento é uma atitude de profundo cuidado e respeito consigo. Se estiver difícil de começar por algum lugar, acredito que esta sugestão possa ajudar.


Abraço!



 

¹ Esse trecho assim como as principais ideais contidas nesse texto foram retiradas do livro "A função do orgasmo", de Wilhelm Reich.


² Esse trecho foi retirado de "O mistério da consciência", do neurocientista António Damasio.

49 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page