Para tentar sair do redemoinho de não saber o que se quer
- Gabriela Gibim

- 13 de jun. de 2023
- 3 min de leitura

"Quem eu sou” e “o que eu quero” não são a mesma coisa, mas é fato que saber o que se quer ajuda a dar alguma forma a essa experiência tão complexa e sempre inacabada de entender quem se é.
Quem já está familiarizado com o modo com que a psicanálise pensa a constituição do psiquismo, sabe que a relação entre o eu e o outro, ou entre o eu e o mundo é fundamental para entender porque cada pessoa vai se constituindo dessa ou daquela maneira.
Já conversamos por aqui sobre aspectos dessa relação em que esse outro, ou esse mundo, com suas demandas e imposições, oprime o sujeito. Mas, é preciso considerar que, em contrapartida, há vezes em que estar as voltas com as demandas ou imposições do outro se torna um hábito. Será que lidar com essas demandas tornou-se, em alguma medida, um refúgio (talvez de algo mais angustiante)?
Tais situações não acontecem à toa. Fazer o movimento contrário é ir rumo à própria diferenciação e esse é um desafio que requer suportar um tanto de incertezas. E quando digo isso, é preciso que se dê a devida importância a palavra "desafio", pois envolve, por exemplo, olhar para características de si mesmo que ficaram ocultas e que podem causar muita culpa ou vergonha.
DESEJAR E QUERER SÃO A MESMA COISA?
Na psicanálise há um termo que muitas vezes acompanha esse tipo de reflexão sobre o "querer" e que esclarece aspectos dessa complexidade, que é o desejo. Não cabe aqui, nesse textim, aprofundá-lo, mas vale o destaque que entender sobre o que se deseja é parte de um processo analítico e que desejar não se trata de um “querer mais forte”, nada disso, mas de um querer que não é consciente por parte do sujeito, e que remeteria às primeiras experiências de satisfação que se obteve na infância.
Querer e desejar são coisas distintas, mas quando estamos avessos demais a tomar consciência dos desejos como parte de nós, pouco conseguimos caminhar em direção ao nossos quereres, porque sofremos, angustiamos, ficamos ansiosos e adotamos comportamentos obsessivos.
UM RECOMEÇO MAIS SINCERO CONSIGO MESMO
Pode ser que estejamos sempre as voltas com esse tema de não saber o que se quer, e se levarmos em conta que nos constituímos como pessoas a partir das relações com outros humanos, é comum que nos importemos não só com “o que eu quero?”, mas também (e às vezes sobretudo), com “o que os outros querem?”.
Nosso querer raras vezes é muito criativo – e isso é uma pena! Individualmente estamos sempre moldando esse querer a partir do coletivo, do que vamos “capitando” - a partir dos nossos sentidos - ser interessante, importante, ou correto de se querer.
Nesse sentido o atendimento clínico é um lugar privilegiado para esse tipo de escuta, pois é onde recebemos “em primeira mão”, digamos assim, as evidências de que a sociedade, com seu conservadorismo e preconceitos, não está mandando muito bem e que os “quereres” ditos interessantes, corretos, importantes, não são assim, tudo aquilo que deles se espera. Necessariamente não trazem felicidade, nem são capazes “tapar” todo e qualquer buraco que pode haver em si, como sugerem.
Qualquer pessoa que viveu de modo muito atrelado às necessidades (ou caprichos) de outro alguém, pode ter experimentado um estranhamento consigo mesmo. Essa é uma experiência que incorre em diferentes sentimentos como o de se menosprezar ou de estar perdido, que tornam o viver algo penoso.
Uma boa dica para quem está buscando se aprofundar nessa questão, além dos bons podcasts e vídeos sobre o tema, é poder ter um diário de cabeceira para escrever sobre como está se sentindo e, também, anotar seus sonhos (mesmo aqueles que são ou parecem ser sem pé nem cabeça).
Ter um diário é um bom caminho para ir se habituando a ter uma pausa para pensar sobre si mesmo, coisa que raramente fazemos com qualidade. É um jeito de subverter um pouco o jeito "automático" que pode-se ter de pensar sobre si mesmos sempre em meio a muitas tarefas do dia-a-dia, repleto de autojulgamento.






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