Novas amizades na vida adulta? Algumas dicas e reflexões que podem ajudar
- Gabriela Gibim

- 29 de out. de 2024
- 4 min de leitura

A amizade é um modo de se relacionar que costuma ser estimulado desde a infância, quando a maioria das crianças começa a se inserir em espaços de maior sociabilidade como escolas, bairros e comunidades dos mais diversos tipos, mas na vida adulta esse quadro se transforma de tal forma que muitas vezes os espaços sociais, embora existentes, não favorecem que novas amizades surjam, o que é motivo de angústia para muitas pessoas.
Para os adultos mais introspectivos ou que acabaram perdendo contato com os amigos que haviam feito, o medo da solidão surge, especialmente, da dificuldade de encontrar caminhos para superá-la nessa fase da vida.
Em situações como essas, fazer uma pausa para pensar sobre o campo das amizades pode se revelar bastante significativo, embora possa ser desafiador. Assim como acontece com o amor, pensar sobre a amizade pode facilmente levar a um sentimento de insuficiência ou de autoquestionamento, movido muitas vezes pela crença de se estar diante de algo que deveria ser espontâneo ou natural (e não está sendo).
Pode ser que - dentre os que leem este texto agora, alguns achem que pensar demais acabe por atrapalhar a experiência da amizade, mas talvez seja importante considerar que mesmo que não seja perceptível, esse cuidado de pensar na e sobre a amizade - para que ela exista e que, efetivamente, se mantenha - pode estar sendo feito, por exemplo, pela pessoa que busca ser sua amiga ou sendo estimulada pelo contexto no qual você vive, sem que você perceba. Pois sem esse cuidado, dificilmente a amizade permanecerá viva.
E, talvez, aí já exista um primeiro ponto sobre isso. Se na vida adulta é menos comum que existam incentivos externos para se fazer novas amizades, essas podem parecer "mais forçadas", pelo simples fato de que suas circunstâncias dependem mais das pessoas interessadas, tendo menos suporte vindo dos contextos sociais.
Mas o que faz uma amizade existir?
Embora tenha aqui neste texto aproximado a amizade do amor no que se refere à espontaneidade com que se espera nessas duas situações relacionais, a amizade depende da reciprocidade para que ela exista, diferente do amor que se origina da idealização do outro e que prescinde de reciprocidade.
A amizade, ao menos em sua expressão mais saudável, não se mantém em relações em que a hierarquia se sobressai, diferente das relações familiares ou do enamoramento. Ela depende que ambas as partes se percebam como iguais, para que uma comunicação íntima possa se estabelecer.
A intimidade e a cumplicidade são sentimentos indispensáveis, que tornam possível que em um relacionamento entre amigos as vulnerabilidades possam ser expressas e que se invente um modo de lidar com elas. Um relacionamento de amizade se fortalece quando os amigos aprendem a rir de si mesmos para além de rir dos outros (o que é bastante comum, mas não muito positivo à formação de laços mais verdadeiros e duradouros).
Perceberem-se como iguais, não quer dizer agir como uma mesma pessoa ou concordar em tudo. Muito pelo contrário, as diferenças podem - quando bem percebidas e aproveitadas, serm bem vindas no campo das amizades. Costuma ser muito bom poder contar com uma amiga ou um amigo que pensa, sente e vive de um modo diferente.
Diferenciação não precisa vir acompanhada de uma relação de idealização ou de hierarquia.Quanto mais se aprofunda em uma relação de amizade, mais se pode perceber o quanto se é parecido e diferente daquela/daquele amiga/o, tudo junto e ao mesmo tempo.
Recentemente, pesquisando sobre amizade em diferentes autores, deparei-me com um ensaio de Montaigne sobre esse tema, em que ele diz que "a amizade se alimenta da comunicação". Esse talvez seja um ponto subestimado, mas essencial.
O que faz uma amizade durar?
Para ter boas relações de amizade, é preciso se comunicar (de diferentes e singulares maneiras), e para se comunicar é preciso aprender a suportar a diferenciação. Suportar que aquela pessoa pense diferente, faça escolhas diferentes, inclua outras pessoas em sua vida. E isso, talvez, seja algo que a maturidade possa proporcionar à favor da amizade, ao possibilitar que uma elaboração emocional sobre essas diferenças aconteça, coisa que na infância ou na adolescência é mais difícil de se realizar.
Contudo, a maturidade não se adquire apenas desembocando na vida adulta, não é mesmo? Além do mais, talvez não seja tão comum que as pessoas se relacionem sem que haja uma relação de hierarquia posta na vida adulta, o que torna o processo de aprender a se relacionar mais complicado, sem exemplos próximos para se espelhar.
Se te faltam exemplos assim, poder seguir confiante para ir criando seu próprio modo de se relacionar (que não parta dessa premissa hierárquica), pode exigir mais tempo e paciência consigo mesmo.
Se você gosta de leituras, ler textos de literatura sobre o tema, como esse ensaio de Montaigne, pode vir ao seu auxílio, mas também pode ser tão importante quanto, o exercício de olhar para si mesmo, buscando algum ponto que parece tornar essa prática da construção de amizades mais complicada. Esse pode ser o início de uma reflexão maior, que pode te ajudar a buscar novas amizades sentindo-se mais seguro/segura.
Fique à vontade para escrever nos comentários as suas impressões. Cada olhar e sentimento compartilhado alarga, um pouco mais, as formas de se viver a vida!






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