Celebrar e desmecanizar
- Gabriela Gibim

- 22 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de mar. de 2021

Estamos em 2021 na continuidade das mudanças, no “contínuo-descontínuo” que é a vida em processo com suas constantes transformações. Difícil apontar no percurso de uma transformação, a sua origem. Na Vida com V maiúsculo, há um sem número de instantes em que escolhas, desvios, encontros e desencontros, acontecem, e nós fazemos e tomamos parte dessas mudanças.
Celebrar as mudanças é algo que nos vincula comunitariamente e nos liga à vida, e é sobre este ato, de celebrar, que eu proponho essa pausa e um olhar atento. Em “sociedade do cansaço”, livro que eu já mencionei aqui em um outro textim (aqui), Byung- Chul Ham retoma um outro autor, Hans-Georg Gadamer, para dizer que na festa, assim como na arte, temos um certo jeito comum de experienciar o tempo: nessas duas situações nos demoramos, vivemos um tempo próprio.
Reproduzindo aqui o trechinho que o Byung-Chul Ham destacou do texto do Hans-Georg Gadamer (nomes difíceis, né?), está assim: “A essência da experiência de tempo da arte é que devemos aprender a demorar-nos junto a ela. Talvez essa experiência seja a mais adequada correspondência ao que se costuma chamar de eternidade”
Celebrar é, entre outras coisas, adentrar uma outra relação com o tempo, que é diferente do cotidiano e que, ao seu modo, eleva nossa energia vital. E aqui que cabe um olhar atento: celebrar nos liga a vida, a sua potência, nela acordamos o nosso corpo para sentir em conjunto.
Em tempos de tanta emoção a flor da pele, de tantos contínuos-descontínuos, a gente celebra os pequenos e grandes acontecimentos esperançosos, os inícios de novos ciclos, as datas memoráveis.
Sempre trago aqui algo sobre desenvolvimento humano e sobre autoconhecimento, que
nos ajude a “desmecanizar” as nossas ações e nosso estar no mundo. Então, vale dizer que quanto mais mecanizados vivemos os momentos de celebração, mais alienados, desconectados da vida, estamos.
Mas, vamos lá, ninguém precisa racionalizar, pensar criticamente, sobre o ato de celebrar para celebrar, assim como não se precisa do mesmo para fazer arte. Contudo, a beleza de celebrar a vida, é que quando vivenciamos esse momento de um modo que nos faz ter contato com essa experiência de “eternidade”, não se nega nenhum sentimento, nem mesmo a tristeza. Há, talvez, algo em nós que nos faz senti-los, e para além deles – sabe? Eu diria assim (como você diria?).
E às vezes, no celebrar, há aquela estranheza que vem da tristeza, que seja da ausência de alguém querido, da despedida do ciclo que se encerrou, do receio da novidade que vem pela frente. Celebrar quando há tristeza, é saber sobre ela e senti-la, inclusive, e poder ir além. Celebrar nos dá a possibilidade de sentir a tristeza e suportá-la, e por isso, nos dá a possibilidade de sermos mais inteiros.
Fica o desejo, por fim, que os pequenos atos de celebrar a vida nos faça um pouco
mais inteiros.






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