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“Estou infeliz no trabalho”, pausa para refletir

  • Foto do escritor: Gabriela Gibim
    Gabriela Gibim
  • 16 de jan. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 26 de fev. de 2023

Se você está se sentindo infeliz no trabalho, esse texto pode te ajudar com algumas reflexões


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A ideia de que haja um limite para ser ou ter tudo o que se quer, parece ultrapassada, em um contexto cultural em que somos cada vez mais estimulados a assimilar que tudo, na verdade, seria uma questão do quanto se quer e o que se faz por aquilo que se quer. Quando se pensa no mundo do trabalho, em mudar de profissão ou de empresa, por exemplo, jargões como “tudo depende de você” se aplicam a qualquer realidade, irrestritamente, e ocultam a possibilidade de qualquer reflexão.


Quero falar um pouco sobre como a insatisfação no trabalho e a infelicidade podem estar ligados às idealizações que criamos, sejam elas sobre nós mesmos ou sobre nossos projetos profissionais e de carreira.


Porque o assunto trabalho é tão importante, eu já venho falando a esse respeito em alguns textos passados e este aqui é o terceiro textim sobre o tema.


Os outros dois estão aqui:



Retomando uma citação que utilizei em um deles, em nossa sociedade estamos sendo levados a crer que devemos ser “empreendedores por si mesmos e de si mesmos". Dessa frase, podemos entender que os valores que dominam o mundo do empreendedorismo como a publicidade, a alta produtividade, alta competitividade, inovação, etc. são transportados, por assim dizer, para como se pensa e se vive a vida como um todo. Passa-se a acreditar que viver de forma empreendedora seria a chave para uma vida feliz ou “melhor que”.


Ter ou viver a vida dessa forma, nesse “molde” do empreendedorismo, passa a ser um ideal. E o que é idealizar? Segundo a psicanálise, quando idealizamos estamos exagerando ao máximo as qualidades boas de um determinado objeto, tornando ele perfeito. Em grande parte das vezes, fazemos isso para nos defendermos da angústia gerada em nós pelas falhas, pelas imperfeições e incompletudes que existem no mundo com que nos relacionamos ou em nós mesmos, em um determinado momento da vida. É possível dizer que quanto mais sofremos com as falhas e as incompletudes, mais tendemos às idealizações.

Na psicanálise essa palavra é utilizada em dois conceitos, por assim dizer, que descrevem formas de sentir e de pensar, que podem estar mais ou menos presentes em nossa vida adulta.

Não é muito precisa a distinção entre esses conceitos, que chamam de ego ideal e ideal do ego. Mas, posso dizer, de forma despretensiosa, que a idealização pode ocorrer tanto no sentido de uma pessoa sentir a si e ao mundo que “lhe pertence” como perfeitos, sem falhas ou limitações, como no sentido de uma pessoa internalizar métricas (regras, parâmetros) externas que sejam “ideais”, daquilo que se deve ser ou daquilo que não se deve ser.


Quando se começa a ter um olhar mais atento para os estímulos ou para as “propaganda” para viver a vida a partir da lógica empreendedora, vemos que elas estão em muitas áreas da vida. Há dicas de toda sorte para otimizar seu tempo e os resultados, independente de onde isso se aplique: no seu café da manhã, no seu jeito de se deslocar pela cidade, em como cozinhar para a semana ou organizar a sua casa, em como transformar um lazer em uma segunda fonte de renda, enfim. Nenhuma dessas sugestões poderia ser considerada uma má ideia - caso considerada isoladamente. O problema começa no momento em que se acredita que da obediência a todas elas atingiríamos a tal "vida perfeita"

Essa questão do empreendedorismo no trabalho e na vida talvez seja o melhor exemplo de idealização dos tempos atuais, contudo, é bom considerar que há outras também. O importante é considerar que, caso se esteja idealizando demais outro emprego, ou regime de trabalho, é porque de fato há algo que não está indo bem, é porque se está infeliz, insatisfeito. Agora, quanto se debruçou sobre a compreensão do que se trata de fato essa insatisfação? Esse é um tempo que não deveríamos abrir mão, mas as ofertas de “outras vidas” mais felizes e produtivas são tão abundantes que esse tempo, por vezes, é suprimido.


Há, pelo menos, duas coisas que podem acontecer na relação com o trabalho e que demandam atenção:

  1. Há falhas que existem e existirão independente de qual caminho escolher trilhar: a imprevisibilidade, a divergência, a frustração, a perda; é importante conscientizar-se que será preciso aprender a lidar com elas. Isso, às vezes, pode ser muito doloroso e difícil de suportar, principalmente quando, na vida, fomos expostos muito precocemente às falhas, à falta, ao desamparo no ambiente em que crescemos.

  2. Há situações em que o estímulo para escolher uma carreira e não outra está sendo difundida pela mídia, por exemplo, ou por familiares, amigos, etc. como uma fórmula perfeita; como se pode ser ser muito muito suscetível ao que é esperado socialmente, a ideia de corresponder a essas expectativas às vezes suprime o tempo necessário de reflexão sobre a mudança que você está realmente desejando realizar.


Chegando ao fim desse textim, espero ter ajudado a ampliar a reflexão sobre esse tema que por vezes nos toma com um sentimento de urgência. O trabalho na vida adulta ocupa uma “fatia” muito importante de nossas vidas, e às vezes muito maior do que imaginamos: é nossa fonte de sustento e também parte do nosso senso de realização e de nossa vida social.

Poder fazer essa reflexão com mais atenção para as idealizações, pode ajudar muito nesse processo de escolher qual caminho percorrer.



Fique à vontade para escrever nos comentários as suas impressões. Cada olhar e sentimento compartilhado alarga, um pouco mais, as formas de se viver a vida!




 
 
 

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