top of page

Nem em quarentena somos os mesmos todos os dias

  • Gabriela Gibim
  • 6 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

A data de retorno à circulação e ao convívio social é incerta – sem dizer “normalidade”, para não parecer que será como era. Já estamos a muitos dias de quarentena e talvez já tenha dado tempo para sentir que, mesmo nesse contexto de reclusão, a gente não é o mesmo todos os dias. Há dias em que estamos mais sensíveis, há dias em que estamos mais expansivos, produtivos. Há dias que queremos companhia e há dias que fazemos aquele uso bom da solidão, de amorosidade consigo. Perceber isso é em si terapêutico, e pode ser muito prazeroso agir em sintonia com essas mudanças sutis, que por vezes a gente só percebe quando se lança para uma atividade e sente que “não engrenou”.


A comida ficou só "comível", o trabalho saiu uma b****, e assim por diante. Isso já era assim antes da pandemia, e tanto lá, quanto cá, se não é a gente que busca fazer as coisas em sintonia com os nossos estados de ânimo, com a nossa disposição corporal, o mundo é que não nos oferecerá essa possibilidade. Ele, no máximo, nos oferece analgésicos e anticoncepcionais.


A expectativa do mundo de que todos os dias sejam iguais, não fará com que sejam – ainda bem – mas há uma série de sentimentos tristes que recaem sobre nós, culpa, ressentimento, inveja, quando nossa expectativa está em dar conta da demanda independente de quais recursos internos teremos que dispor para realizá-la.


Não existe um jeito único de buscar essa sintonia¹, mas ajuda nesse processo pensar que muito dos ruídos dessa relação ocorrem quando distanciamos aquilo que sentimos daquilo que expressamos. Tão comum quanto, é nos expressarmos pouco ou nos expressarmos apenas na relação com alguém, reagindo a um pedido, pergunta ou necessidade apresentados pelo outro. A dica é observar uma prática em que você reconhece que se expressa mais livremente, que te permita experienciar a plasticidade que há em seus (nossos) estados de ânimo, por exemplo, entre a introversão e a extroversão e deixar que seu estado se revele para você.


Não se trata de querer moldar um estado, mas de compreender qual é, quais suas qualidades. Se for na música que escolher ouvir, se for na culinária, na dança, - ou em quê? –, desfrute, desfrute como algo que é para você, para sua expressão, e que por isso, precisa ser sem julgamentos, e isso é bastante importante, diria crucial: não se julgar.


Fazer aquilo que fazermos em sintonia com o que sentimos, diz do quanto vamos exigir de nós mesmos na sua realização, de quando e de como vamos fazer. É dar ao que fazemos, qualidades diferentes, nos diferentes momentos em que estamos. E aí podemos começar também a ir despedindo-nos das idealizações.


Fica o convite, deixe que a música, a dança, a receita culinária se moldem e se ajustem ao seu estado, e tragam melodias, intensidades, e sabores para ele. É muito bom sentir nosso corpo desfrutando desse ajuste fino e se abrindo às mudanças que virão.


¹ Eu, por exemplo, encontrei na prática do Movimento Vital Expressívo a possibilidade de explorar as minhas emoções e expressões. Lá posso tanto expor aquelas emoções que já sinto e reconheço em mim, quanto criar novas formas de expressar o que vou sentindo em ato. Para quem não conhece, nas palavras do site oficial do grupo de campinas, o movimento vital expressivo é uma prática integrante do Rio Aberto, um sistema psicocorporal criado por Maria Adela Palcos em 1966 na Argentina que busca a integração dos planos físico, emocional, mental e espiritual, fundamentado nos princípios de liberdade e confiança no potencial humano. (https://rioabiertocampinas.com.br/intro.html#)

2 Comments


Gabriela Gibim
Gabriela Gibim
Jul 03, 2020

Siim, a lista é muito grande, dá até uma faltadinha de ar aqui! A esperança é que a gente consiga ir se conscientizando dos nossos estados de ânimo e que essa consciência nos ajude a nos organizarmos sem colocar em primeiro plano a auto cobrança e o julgamento. Seguimos juntas!

Like

Carol Almeida Nikolic
Carol Almeida Nikolic
Jul 02, 2020

A lista de coisas para fazer é tão grande e na quarentena se multiplicou. Coisa simples essa de apenas fazer algo de acordo com o seu estado de animo. Parece que só existe tempo para o que deve ser feito. E mesmo depois de feito o auto julgamento sempre vem "mas não está do jeito que eu queria". Obrigada pelo texto e pelas dicas. Seguimos juntas no caminho do autoconhecimento.

Like

© 2017 GGIBIM. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page