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  • Foto do escritorGabriela Gibim

A importância da emoção para a vida e para o autoconhecimento


colagem com imagens expressivas de emoções humanas
importância da emoção

É provável que cada um de nós tenha um exemplo de frases escutadas na infância, na adolescência e na vida adulta que outras pessoas nos disseram e que reprimiram o que sentíamos. Eu, por exemplo, me lembro de algumas: quando me diziam para “fazer as pazes” com alguém, irmão, primo, colega, ainda que eu estivesse vermelha de raiva, ou quando ouvia das professoras que eu deveria “deixar a vida lá fora” quando entrasse na escola, para não me distrair com pensamentos e emoções que não tivessem a ver com a aula.


Há, sim, um grande desconhecimento sobre a função das emoções por trás dos modos como recorrentemente – e por que não, estruturalmente – vamos aprendendo a lidar com elas ao longo da vida. É muito comum, inclusive, que tenhamos aprendido a valorizar a repressão das emoções como demonstração de uma habilidade em sermos racionais, de não “se entregar” ao que é irracional e, por isso, não civilizado.


O que esse modo repressor parece desconhecer – ou desconsiderar – é que as emoções são fundamentais a nossa sobrevivência.


Saber como podemos ir amadurecendo a forma de lidar com elas é algo, sim, muito importante, mas o caminho da repressão não é tão bem-sucedido como imaginamos (não é nada bem-sucedido, sabe?), já que como já citei uma outra vez, podemos reprimir as nossas emoções, contudo, sem “jamais podermos bloquear as mudanças automáticas que ocorrem nas vísceras e no meio interno”. (António Damásio)[1]


Depois desse texto, é capaz que você entenda um pouco mais sobre a importância das emoções em nossas vidas e de como o olhar aberto e sincero em relação a elas é crucial para favorecer o processo da autorregulação de nossos corpos, do autoconhecimento e do cuidado mútuo nas relações que mantemos.


ENTENDENDO UM POUCO A FUNÇÃO DAS EMOÇÕES


Emoção significa “mover para fora”. Da forma mais resumida que conheço, a emoção é uma reação do nosso corpo a algo que nos afeta, que pode ser externo a nós, como o choro de uma outra pessoa, ou interno, como a lembrança de algo vivido. Ao contrário do que muitos pensam, nós podemos ter ou não ter consciência das emoções que podem estar por trás das inúmeras ações que realizamos no cotidiano.


Segundo Damásio, neurocientista português que eu já citei aqui do blog, as emoções, como a raiva, alegria, medo, tristeza, surpresa, repugnância, fazem parte da regulação do corpo que chamamos de homeostase, que é o estado de equilíbrio de nossas funções vitais. A estabilidade do estado interno do nosso organismo está, portanto, ligado às emoções, que assim como parcela significativa do funcionamento do nosso corpo, ocorrem sem nosso controle voluntário.


Considerando as suas funções biológicas, as emoções possuem duas: produzir uma reação específica à uma situação indutora (externa ou interna ao corpo) e regular o estado interno do organismo, de modo a prepara-lo para uma reação.


Deu para perceber, na afirmação acima, que não há uma distinção entre emoções positivas ou negativas de serem sentidas, todas elas da mesma forma contribuem para a conservação da vida.


Essa vida que buscamos conservar não é uma vida solta no espaço, não é mesmo? É uma vida em relação com outras vidas, de todas as formas, inserida em regimes de discursos e de sensibilidades, que se influenciam mutuamente. O “Como” se influenciam é um tema comentado, ainda que brevemente, em alguns textinhos desse blog:



Logo virão outros textos tratando dessa temática com mais detalhes! :)


“SEM EMOÇÃO, NÃO HÁ MUDANÇA”[2]


O crucial é entendermos que as emoções são importantes ao processo de conservação da vida. Viver em um mundo que prioriza a repressão produz em nós formas de sofrimento psíquico que estão ligadas tanto a dificuldade de valorizar essas emoções sentidas, ainda que não saibamos nomeá-las, e de ligar elas à momentos importantes de nossas vidas e de nosso sofrimento, inclusive.


Um processo psicoterapêutico (e aqui vou dizer especialmente daqueles de base psicanalítica) pressupõe que emocionar-se, para além de falar sobre o que vivemos, é o que torna possível mudarmos o estado adoecido em que nos encontramos.


Retomando um pouco o que disse antes, lembre-se: emoção é “mover para fora”. Quando saímos do estado de paralisia que nos adoece e seguimos adiante, pode ter certeza que as emoções estão presentes nesse movimento.


Esse finalzinho de texto é um encorajamento ao contato com as emoções, que vivemos em um espaço terapêutico, sim, mas, sobretudo, na vida em sentido amplo.

Percebê-las como cruciais ao processo de conservação de nossas vidas e como reações que não são positivas ou negativas em si, talvez ajude nesse processo de não reprimir, mas de elabora-las quando tomamos consciência de sua presença e do porquê sentimos determinada emoção naquele momento. Tudo ao seu tempo.

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Fique à vontade para escrever nos comentários as suas impressões. Cada olhar e sentimento compartilhado alarga, um pouco mais, as formas de se viver a vida!



 

[1] Essa citação é do livro “O mistério da consciência” do António Damáio, está na página 49. [2] Essa frase foi retirada de um artigo, “Psicoterapia psicanalítica focada nas emoções” escrito por António Pazo Pires, que pode ser encontrado nesse link http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382016000200008

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